Fabrício Garcia
Consultor Educacional
A dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada a diversos fatores, como: baixa qualidade dos materiais didáticos, ineficiência do professor, erros de estruturação da aula, problemas sócio-emocionais, falta de suporte familiar, distúrbios do aprendizado, entre outros.
O estudante pode apresentar múltiplas causas para justificar o seu baixo desempenho ou apenas um fator pode estar envolvido no processo. A dificuldade de aprendizado pode estar relacionada a aquisição de uma habilidade específica. Assim, um estudante pode ser brilhante no domínio de algumas habilidades complexas e, ao mesmo tempo, ter extrema dificuldade no desenvolvimento de habilidades mais simples.
Isso confunde os professores mais despreparados, que, em muitos casos, ficam literalmente perdidos quando se deparam com alunos com dificuldade de aprendizado.
Ao contrário do que muita gente pensa, os distúrbios ou dificuldade de aprendizagem não são resultantes da baixa inteligência, falta de motivação pessoal ou deficiência visual e auditiva. Hoje, sabe-se que os alunos com dificuldade de aprendizagem podem apresentar distúrbios em áreas cerebrais específicas, que podem estar relacionadas a leitura, a escrita, ao raciocínio matemático, a atenção, as habilidades sociais, etc. Assim sendo, cada indivíduo pode apresentar uma combinação específica de problemas.
Dessa forma, muitos professores não compreendem que estudantes com dificuldade de aprendizagem são capazes de fazer as lições e entender a aula, pois sua inteligência não foi prejudicada.
O que é um distúrbio de aprendizagem?
Trata-se de uma das possíveis causas da dificuldade de aprendizagem. Tais distúrbios se caracterizam pela manifestação de um padrão cognitivo muito abaixo do esperado para um indivíduo em determinada etapa escolar.
As causas não estão relacionadas a aspectos pedagógicos, dessa forma, eventuais mudanças nos métodos didáticos-pedagógicos aplicados a esses estudantes não geram significativa melhoria de aprendizado. Pois a causa do problema geralmente advém de alguma disfunção neurológica, em alguma área do cérebro, gerando dificuldade na aquisição de habilidades específicas.
Quais são os principais distúrbios de aprendizagem?
- Dislexia: os estudantes apresentam dificuldade de leitura. É muito comum, com mais de 2 milhões de casos relatados por ano no Brasil.
- Disgrafia: os estudantes apresentam dificuldade na escrita. Isso inclui, principalmente, erros de ortografia, como trocar, omitir, acrescentar ou inverter letras.
- Discalculia: os alunos que enfrentam esse distúrbio são afetados, principalmente, em sua relação com a matemática. Portanto, os sinais envolvem dificuldade em organizar, classificar e realizar operações com números.
- Dislalia: os alunos que enfrentam esse distúrbio demonstram dificuldades na fala. Eles podem ter alterações da formação normal dos órgãos fonadores, dificultando a produção de certos sons da língua.
- Disortografia: os alunos que enfrentam esse distúrbio geralmente também são afetados pela dislexia. Ainda que se relacione à linguagem escrita, a disortografia é mais ampla do que a disgrafia. Pode envolver desde a falta de vontade de escrever até a dificuldade em concatenar orações.
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Os alunos que enfrentam esse distúrbio apresentam baixa concentração, inquietude e impulsividade. Foi constatado que uma das causas do TDAH é genética e que há implicações neurológicas.
Observe que o diagnóstico das possíveis causas geradoras da dificuldade de aprendizagem é extremamente complexo e deve ser multidisciplinar, envolvendo profissionais da área de saúde e educação. Contudo, o primeiro profissional a se deparar com o problema geralmente é o professor, que tem a difícil missão de fazer a triagem inicial, isto é, identificar o aparecimento de sinais desses distúrbios ou de quaisquer outras causas relacionadas a dificuldade de aprendizagem dos estudantes.
O que atrapalha essa triagem?
Em um estudo recente nos Estados Unidos (Clique aqui para acessar o relatório), apenas 17% dos professores declararam que se sentem adequadamente capacitados por seus programas de formação inicial para atender alunos com dificuldade de aprendizagem. Além disso, esse mesmo estudo identificou que um terço dos professores acredita que os problemas de dificuldade de aprendizagem dos estudantes são causados por mera falta de motivação.
Percebe-se que a baixa qualificação dos professores os levam a perpetuação de mitos e conceitos errados sobre o tema.
Não encontrei dados acerca da realidade brasileira, mas suponho que não seja melhor que a americana.
Como melhorar o atendimento desses estudantes?
O caminho é o diagnóstico precoce do problema.
Deixar de apoiar os estudantes com dificuldade de aprendizagem, mais cedo, pode gerar consequências catastróficas e imprevisíveis no futuro. Em um estudo recente (Clique aqui para acessar), os cientistas destacaram a necessidade de intervir precocemente nas fases críticas de desenvolvimento cerebral, sob pena relegar o estudante a consequências irreversíveis no futuro.
Exemplificando, verificou-se que as intervenções de leitura para crianças com dificuldades de aprendizagem são duas vezes mais efetivas se realizadas na segunda série, em vez da terceira série. Isso demonstra a importância da intervenção profissional no tempo certo.
Assim, o professor é a peça chave desse processo de diagnóstico. Ele é o responsável por acender a luz de alerta.
A análise dos resultados das avaliações pode ajudar na identificação do problema
Avaliações de estudantes estruturadas a partir de uma matriz de habilidades podem ser o melhor caminho para definição do grau de dificuldade cognitivo dos estudantes acerca de habilidades específicas. Assim, a análise dos resultados das avaliações associada a observação do estudante em sala de aula pelo professor pode ser a fórmula de sucesso para identificar precocemente o problema de dificuldade de aprendizagem.
O problema é que, no Brasil, os professores têm grande dificuldade na implementação de avaliações cognitivas focadas em matrizes de habilidades. Dessa forma, esbarramos, novamente, na questão da qualificação dos professores.
Felizmente, temos tecnologias interessantes que podem ajudar os professores na implementação de avaliações mais qualificadas. O nosso trabalho na Qstione é um bom exemplo disso.
Nossa tecnologia permite a criação de avaliações focadas em habilidades cognitivas específicas, possibilitando a análise de resultados por habilidades individuais. Assim, o diagnóstico da dificuldade de aprendizagem pode ser mais específico e os professores poderão ter mais segurança para encaminhar os estudantes ao atendimento mais especializado e multidisciplinar.
Até o próximo artigo!